sábado, 18 de outubro de 2008

A luta pelo direito

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Estive revendo Robert de Niro executar sua vingança por conta de injustiça sofrida 14 anos antes. Luta é sem trégua, ardilosa e – para alguns – desproporcional. Como eu tinha que fazer uma resenha do filme, fui ler a “Retórica das Paixões” de Aristóteles. Para ele, a cólera decorre do ultraje, do desdém, do esquecimento ou da indiferença: “Como se eu fosse um desterrado indigno de respeito” – lamento de Aquiles, II II 196. De Niro degusta seu “copo de cólera” friamente, metodicamente, levando seu antigo advogado e família ao 9º círculo do Inferno – o dos traidores.

Ihering legou-nos um precioso ensaio – A Luta pelo direito – no qual ele nos ensina que todo homem tem obrigação de buscar seu direito a qualquer custo, sob pena de equiparar-se a um animal. Até o céu clama por justiça ao ultrajado. A cólera, ao contrário do ódio, tem uma conotação interpessoal e assimétrica. O ódio independe de ligação pessoal, mas pode ser recíproco.

O filme de De Niro possui forte apelo bíblico, com citações a Jó, submetido por Deus a sofrimentos infindáveis: lepra, perda dos bens, perda dos filhos. Tudo com infinita paciência. Mas Jó era Jó e Deus é Deus. O tripé da corte americana é justiça, equidade, compaixão. A pessoa comum, em busca de justiça, vai ao inferno e volta, sem sossego e sem paz. Mesmo não tendo mais o que perder e à custa da própria vida, se necessário. Não sem antes imprecar: “Deus livre meu inimigo de me degradar, para que eu não tenha que odiá-lo”.

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